domingo, 1 de agosto de 2010

Sou XX, e daí?

Vou encher de flocos de espuma
As almofadas azuis de estrelas
Depois costurar tudo direitinho
Com zelo de artesã nordestina
Também quero escrever um livro
E plantar um pé de feijão
Eu preciso falar!
Pra poder entender que é mesmo vida
Isso que eu chamo de minha vida
E que mamãe não ficou nove meses, até mais,
Engordando, pesada, inchando toda
Pra depois sentir tanta dor
E então me parir em vão
Malditos hormônios descompensados!
Ou serão as fases da Lua?
Vou comungar das idéias geniais dos autores de novelas,
Mexicanas, sim, pode ser,
Que derrubam no sofá da sala
Corpos ociosos que aguardam, ávidos, as cenas do próximo capítulo
Quero também voar de vassoura sob o céu cinza de algodão doce
É, não quero ser princesa sobre o cavalo branco
Sou uma bruxa, eu sei, eu sinto
Não sei cozinhar tão bem
Mas faço um bom macarrão
Bem molhadinho e vermelho, salpicado de pimenta do reino
E um bom mousse de maracujá pra sobremesa
O que eu queria mesmo?
É que você estivesse aqui
Pois você nunca se foi
Que diabos de bruxo poderoso é você?
Como pode me preencher assim, de mim mesma,
De vida, de nós, de você, de razões?
De onde vem essa coisa tola de me fazer sorrir produzindo um som qualquer
Em forma ora de sorriso, ora de palavras, ora de bocejo
Esfregando os olhos com as costas das mãos?
De me fazer perder meu medo-tão-característico
E meu vazio-tão-marca-registrada?
Não, não quero explicação
No fundo, eu sei de tudo
Afinal, sou uma mulher, meu amor!
O tolinho aqui é você
Que fingiu não enxergar o que havia
Além do seu umbigo, o Sol!
E saiu na chuva a procurar
Aquilo que sabe que já encontrou
Levando a capa de plástico e as botas de borracha
Sempre tão prevenido de tudo
Mesmo assim, melhor tomar um chá de canela
Prometo que não vai mais espirrar
E comprei um edredom novo!

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