Quando se deu por si e entendeu melhor as coisas
Estivera presa, encarcerada, amordaçada
Uma pedra atirada com estilingue
Acertara-lhe uma das asas, impedindo-a de voar
Então chegaram, sorrateiros, o Senhor Desinteresse e o Senhor Cansaço
Bem acompanhados pelas Senhoras Desilusão e Apatia
Mas o mar batia forte e corajoso nas pedras, no seu ir-e-vir de ondas mecânicas habitual
Carregando tudo, junto com o vento, o desgosto; os sorrisos, às vezes
E as grandes grades que prendem sonhos, enferrujadas pelo Senhor Tempo,
Não mais puderam contê-la
E todos os sentidos lhe foram devolvidos
Por ela mesma, por sua própria vontade e razão
Tinha saudade do cheiro do café quentinho,
De sentir cheiro mesmo,
Beijar olhos, abraçar o vento, sentir os pés descalços sobre a areia molhada fofa
Quis voltar a caminhar, mesmo que o Senhor Ninguém a acompanhasse...
A certeza de que se reconheceria novamente em frente o espelho a assustava um pouco
Não sabia quem a olharia ao vestir seu novo traje decotado ou cortar seus cabelos e pintar de vermelho
Mas sentia que a imagem formada naquele espelho pelas ondas da luz, da sua luz, a agradaria imensamente
Levando-a a cumprimentá-la pelo seu comprimento de onda:
_Sou eu! Voltei!
Recuperado, então, o espaço para as suas futilidades e meninices _ ele chamava assim; ela, de sonhos_
Pôde entender que entender sentimentos é como decifrar enigmas
E que a luz pode se propagar no vácuo.
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